Senado do Paraná em 2022: montanha-russa de emoções
- René Santos Neto
- 6 de set. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 9 de set. de 2022
A eleição do Senado para o Estado do Paraná em 2022 já entrou para a História. Seja pelas reviravoltas, seja pelo ineditismo de uma disputa renhida sem favoritos, seja pela possibilidade da eleição do mandato mais longevo da história do Senado, a eleição atual já ganhou os contornos necessários de dramaticidade. Cabe-nos aqui pontuar e elencar os elementos que tornaram essa eleição um fenômeno único na política paranaense.
Inicialmente, há que rememorarmos o que representa o Senado. O Senado, tal como conhecemos, tem a sua origem nos antigos “conselhos de anciãos” que existiam nas civilizações antigas. As suas formas atuais começam a nascer na Roma Antiga, mais notadamente no Reino de Roma, ganhando a sua forma e a sua importância na República de Roma, em que era, de facto, o órgão que geria a República. Foi somente na fase do Império que o Senado teve as suas funções usurpadas, devido à centralização do poder no Imperador. A origem da palavra Senado vem do termo “senex”, que significa “homem velho”. Ou seja, o Senado é literalmente um “conselho de anciãos”, ou seja, de pessoas sábias e vividas para tomar as decisões críticas da vida da sua sociedade.
O conceito de Senado permaneceu vivo nas gerações vindouras, vindo a desembocar nas Repúblicas modernas dos séculos XIX e XX. Praticamente todas as democracias ocidentais contam com Câmaras Altas, que são responsável não só pela revisão do trabalho legislativo das “Câmaras do Povo”, mas também pela tomada de decisão nas relações externas e na escolha de membros para o Poder Judiciário (há que se lembrar o papel preponderante do Senado na sabatina dos candidatos a ministros do Supremo Tribunal Federal, bem como do papel do Senado na autorização de processos de impedimento destes mesmos ministros).
No caso do Paraná, a importância da eleição do Senado deste ano começa quando houve o esvaziamento da disputa da eleição de Governador. Com a “pax romana” estabelecida pelo atual governador, praticamente houve uma inviabilização do debate político no Estado, o que levou as disputas mais acirradas para o Senado. Novos nomes começaram a se arvoram como balões de ensaio nesta disputa, destacando, em um primeiro momento, o nome do deputado estadual Guto Silva, que foi secretário da Casa Civil do atual governo estadual, mas que não conseguiu viabilizar o seu nome para a disputa. Muito da dificuldade do jovem político de Pato Branco deriva do fato do atual ocupante da cadeira do Senado ser um hábil articulador político, que circula em todas as correntes partidárias. Álvaro Dias já é atualmente o senador paranaense mais longevo (já eleito para 4 mandatos e com 28 anos de casa) e que, caso seja eleito, converter-se-á no senador mais longevo da história da República, com 36 anos de casa (só para registro histórico: Rui Barbosa, considerado o maior senador do Brasil, ficou 32 anos na casa). Com tamanho conhecimento dos corredores do poder, é natural que Álvaro Dias controle todas as chaves de articulação política para esta cadeira. Mas esta não é uma eleição normal. Principalmente diante dos acontecimentos que ocorreram nos primeiros meses de 2022.
Neste ponto, é importante ressaltarmos, haviam alguns atores que não cogitavam entrar nesta disputa. Falamos de Sérgio Moro. O projeto do ex-juiz era presidencial. Devido aos contratempos de mudanças de partidos (que contaram, direta ou indiretamente, com a colaboração do atual ocupante da cadeira do Senado), o ex-juiz precisou mudar de partido e de domicílio eleitoral, obrigando-se a entrar na disputa para a cadeira da Câmara Alta na Terra das Araucárias. Porém, quis o destino que o seu ex-padrinho político e padrinho de Confraria da Boca Maldita fosse a sua nêmesis na disputa. Se em 2018 Álvaro Dias anunciava aos quatro ventos que nomearia o então juiz como Ministro da Justiça para “combater a corrupção do PT”, em 2022 o atual Senador faz olhar de esfinge à operação da Polícia Federal autorizada pelo TRE na casa do ex-juiz para “recolhimento de material irregular de campanha”. Uma reviravolta sem precedentes. Principalmente levando-se em conta que o atual "acordo branco" do senador septuagenário é com o Partido dos Trabalhadores.
Outro elemento a ser considerado nesta disputa é o atual deputado federal Paulo Martins. Eleito em 2018 com uma boa votação, e contando com um espaço cativo todas as manhãs no programa de rádio de maior audiência do Estado do Paraná, além de contar com o apoio irrestrito do atual Presidente, o deputado federal lança-se como azarão na atual disputa. Surpreende a todos ao romper a barreira dos dois dígitos nas últimas pesquisas de opinião, algo que não estava no radar neste momento da campanha. É cedo para afirmar que Paulo Martins possa ter chances reais na disputa, mas, conhecendo da política paranaense e sabendo que eleições no Senado são definidas nos últimos 15 dias de campanha (as eleições de 2010 e de 2018 não nos deixam mentir), há motivos para que o deputado bolsonarista se anime com um desfecho renhido da eleição. Principalmente ao lembrarmos que o atual Senador costuma “derreter” nas pesquisas finais (em 1994, 2002 e 2006 este fenômeno já ocorreu, o que custou 2 eleições a governador e quase custou uma eleição ao Senado) e que o seu principal oponente nunca enfrentou uma disputa majoritária, a despeito de contar com uma enorme popularidade, legado do seu trabalho na Lava Jato.
Há também que se destacar aqui os “underdogs” da disputa. Destaco aqui o simpático e afável ex-governador Orlando Pessuti que, apesar da baixa intenção de voto registrada, parece estar se “divertindo” ao fazer campanha. Deu até “conselhos” ao ex-juiz sobre as fontes inadequadas de divulgação de campanha, como um pai aconselha o seu filho quando faz alguma peraltice. Pessuti é uma figura ímpar na política paranaense, faz uma campanha limpa, impecável e sem rancores. Não disputa diretamente com os principais adversários, mas pode ser decisivo ao tirar votos que podem ser importantes em uma eleição disputada. Também citamos aqui a deputada federal Aline Sleutjes, da região de Castro, que saiu candidata pelo PROS. Devido aos problemas no comando nacional do seu partido e devido a preferência do atual Presidente pela candidatura de Paulo Martins, a candidatura da deputada federal ficou esvaziada, o que impossibilita voos maiores. Porém, a atual deputada já deve ter no horizonte a eleição de 2024, em que provavelmente voltará os seus olhos para a eleição municipal de Castro.
Não há como cravar previsões para a disputa. Sérgio Moro de fato se beneficiou eleitoralmente da operação da PF na sua casa. Pode reforçar a sua retórica de anti-sistema e anti-velha política. Porém, a falta de traquejo e de experiência em disputas majoritárias podem pesar contra o seu desempenho. Álvaro Dias ainda precisa explicar o "acordo branco" com o PT e o seu anacronismo político. Mas é o que conta com a maior expertise política dos concorrentes e o que pode ter melhor desenvoltura no sprint final, caso não sofra do “derretimento” que o acomete desde 1994. Paulo Martins conta com o apoio do atual Presidente para crescer na reta final. Mas apoios de eleições majoritárias nem sempre são decisivos: vide Paulo Pimentel em 2002 e Beto Richa em 2018 que, mesmo com o apoio de máquinas governamentais, não conseguiram chegar ao Senado.
As cartas estão na mesa. Façam as suas apostas!

Foto: Sérgio Moro e Álvaro Dias (Divulgação)
Notadamente a disputa eleitoral para o Senado sempre é ofuscada pelas disputas a Presidente e Governador. Principalmente por ser resolvida em um só turno, apesar de majoritária, de forma contumaz nos trás surpresas. Assim foi quando Álvaro Dias ganhou seu primeiro mandato de Senador ao derrotar o então considerado imbatível ex-governador Nei Braga, outras surpresas aconteceram ao longo do tempo inclusive na eleição mais recente quando inesperadamente os favoritos Beto Richa e Roberto Requião foram massacrados pelo político neófito Oriovisto Guimarães e pelo azarão ex-senador Flávio Arns. Desta forma, neste momento, só podemos especular e nos prepararmos para uma surpresa assim que as urnas forem abertas e tenhamos eleito o novo, ou velho, Senador.
Grande texto, o Articulista em questão, literalmente , 'sondou os rins' da disputa paranaense ao Senado, o fez com esmero e expertise ímpar. Parabens!
Que venha mais!
*Abraços dos amigos(as) do Dep.Caputo, o Deputado da Saúde do Paraná!