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Foto do escritorRené Santos Neto

Xadrez Curitibano

Em 12 de outubro de 2022, em artigo publicado neste blog, colocamos uma singela análise do que poderíamos esperar da eleição municipal de 2024. Diante do cenário trazido pelas urnas, analisávamos que despontavam, àquele momento, três grandes frentes: a de centro-direita, liderada por Deltan Dallagnol; a de esquerda, liderada inicialmente pela deputada federal Carol Dartora; e a frente de centro, liderada pelo vice-prefeito Eduardo Pimentel (após a votação consagradora de Márcia Huçulak para deputada estadual). Correndo por fora, teríamos a possibilidade de candidatura de Paulo Martins. Passados quase seis meses desta primeira análise, observamos que as peças do tabuleiro começaram a caminhar mais ou menos dentro do previsto.


Em relação à Deltan Dallagnol, nota-se que houve um crescimento natural do nome. Já por ter projeção midiática prévia devido à Lava Jato, e aproveitando cada momento de hesitação do atual governo federal, o atual deputado federal já se credenciou como nome forte na disputa. Dispondo de um forte recall, e com um padrinho de peso (Sérgio Moro), Dallagnol é um nome palatável e de fácil circulação no eleitorado curitibano. Preenche os critérios de “bom-mocismo”, além de circular no eleitorado evangélico. Um tremendo potencial, que no mínimo deve garantir um lugar no segundo turno em condições normais de disputa.


Conta contra ele o fato de estar em um partido de pouca estrutura (Podemos), esfacelado e com contradições internas (só lembrar que o ex-senador Álvaro Dias, a atual nemesis do padrinho Sérgio Moro, faz parte do partido e controla o diretório estadual), bem como conta com uma dificuldade natural para fechar alianças com partidos de centro (PP, Republicanos e PL).


A respeito da Frente de Esquerda, muitos nomes e poucas definições. Apesar de contar com o caixa robusto do Governo Federal, com o apoio da chamada mídia tradicional e com a simpatia dos movimentos sociais organizados, ainda falta uma liderança que possa capitanear a liderança da Frente Ampla. Inicialmente despontou o nome de Carol Dartora, até pela votação expressiva à Câmara de Deputados, mas a atuação parlamentar discreta e setorizada deixou o nome da jovem parlamentar em segundo plano.


Nesse ínterim, velhas raposas da política paranaense começaram a circular no espaço deixado. Falamos de Luciano Ducci, ex-lernista convertido ao “socialismo moreno” do PSB, que dispõe do apoio de nada mais nada menos do que o atual vice-presidente Geraldo Alckmin, bem como do seu antigo padrinho político Beto Richa, atual deputado federal e ex-governador do Estado. Ducci, circulando com desenvoltura nos bastidores, acompanhado de seu fiel escudeiro, o ex-deputado estadual Michele Caputo, começa a costurar o acordo com PSDB, PDT, PT e outros partidos de Esquerda, algo inimaginável há 10 anos, quando um acordo deste seria como juntar “água e óleo”. Hoje, a cola do anti-lavajatismo permite que antigos inimigos possam se sentar à mesa como velhos camaradas.


Quem não gostou dessa movimentação foi o ex-governador Roberto Requião, que se considerou “traído” pela direção do PT, por negociar com a fina flor do Lernismo. Pode-se falar tudo de Requião, mas não se pode dizer que ele não é uma pessoa fiel aos seus pensamentos e convicções, mesmo que presos aos séculos passados.


Para finalizar a análise da Frente Ampla de Esquerda, eis que surge o nome de Zeca Dirceu. Filho de Zé Dirceu, o “cérebro” da Esquerda, Zeca tem um currículo invejável. Ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste por dois mandatos, deputado federal por múltiplos mandatos, Zeca tem predicados de sobra para uma candidatura majoritária na capital. Repetiria o movimento de Rubens Bueno em 2004 (o ex-prefeito de Campo Mourão tentou a sorte na capital e quase foi para o segundo turno contra Beto Richa). Além do currículo, Zeca viria com a benção do Presidente Lula para a disputa, que este vê como fundamental para derrubar a “República de Curitiba”, local onde o atual presidente quer, literalmente, “tirar o sangue” de seus opositores. Falta combinar com os russos, ou seja, com a deputada federal Glesi Hoffmann, que vê nesse movimento de colega de bancada uma possível ameaça às suas pretensões de vôos maiores (leia-se Palácio Iguaçu em 2026).


Em relação à Frente de Centro, vemos alguns movimentos incisivos e açodados em momento tão tenro da disputa. Os atuais ocupantes do poder nos Palácios Iguaçu e 29 de Março vêem com preocupação o crescimento de candidatos mais radicais na disputa. A falta de punch do atual vice-prefeito (que ainda não foi testado em disputas majoritárias) preocupa os luas-pretas do terceiro andar do Palácio Iguaçu. Cabe lembrar que, na única disputa eleitoral que submeteu seu nome, Eduardo Pimentel fez singelos 20 mil votos em uma tentativa frustrada para a Assembléia Legislativa. Fato que foi eleito duas vezes vice-prefeito, mas foi acompanhado do atual prefeito Rafael Greca na chapa. Sua presença foi, no mínimo, para não atrapalhar a eleição do atual alcaide.


Para compensar a falta de votos do vice-prefeito, escalou-se a deputada estadual Márcia Huçulak para escoltar ele. Dona de 70 mil votos para a ALEP, com a votação mais expressiva de uma mulher na Capital em eleições legislativas, a ex-secretária de Saúde de Curitiba seria, na concepção dos luas-pretas, o “antídoto” para tornar o neto do ex-governador Paulo Pimentel um nome palatável para o público curitibano. O problema de Márcia é a relação próxima com o deputado federal Luciano Ducci, que está nas hostes da Frente de Esquerda. A contradição de tal posição pode fornecer munição de sobra para a Frente de Direita, dando subsídios para o discurso de “teatro das tesouras”.

E, finalmente, outro elemento que se revela neste cenário é o do deputado estadual Alexandre Curi. Não que o neto do “Buda” Aníbal Curi almeje o Palácio 29 de Março. Mas as pretensões de Alexandre alcançam o Palácio Iguaçu em 2026. Para isso, é fundamental que um aliado ocupe a prefeitura em 2024 e pavimente o caminho dele para o outro lado da Praça Nossa Senhora de Salete. Até sugestões de renúncia do atual alcaide para abrir espaço para Eduardo Pimentel tem sido cogitadas para facilitar o caminho da atual concertação. No entanto, falta combinar com o eleitorado, que não parece agradado em ver os movimentos sorrateiros nos bastidores.


As peças estão se movendo. Outros elementos da disputa ainda estão tentando um lugar ao sol (Gustavo Fruet, Ney Leprevost e Paulo Martins). Mas, devido ao protagonismo das três principais frentes, ficaram eclipsados e ainda não conseguem transitar com desenvoltura no cenário. Como política é como nuvem (ou como a rádio, que em vinte minutos tudo pode mudar), é possível que se beneficiem de uma reviravolta e tenham chances no cenário. Mas, neste momento, parece pouco provável que consigam ter forças para enfrentar as forças já estabelecidas no cenário político municipal.

As cartas estão na mesa. Façam as suas apostas!




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